Jornal Pequeno – Um inquérito instaurado
pela Polícia Militar confirmou uma armação do grupo Sarney para tentar
inviabilizar a vitória do então candidato a governador Flávio Dino., nas
eleições de 2014. Uma operação policial direcionada a um irmão do então
candidato foi armada para tentar criar uma denúncia contra Dino. Três anos
depois, um inquérito militar confirmou que houve conduta arbitrária, ilegal e
abusiva e que a decisão da operação partiu diretamente do antigo comando da
corporação, chefiada por Roseana.
Na madrugada do dia 03 de setembro de 2014,
a PM realizou uma abordagem na altura do Posto da Estiva, em São Luís, em um
veículo Hilux – que fora perseguido por um gol prata do serviço velado –
conduzido por Saulo Dino, irmão do então candidato pelas oposições contra a
governadora Roseana Sarney. Ao contrário do que foi divulgado oficialmente à
época, a blitz foi montada especialmente para fazer a abordagem. A barreira
policial durou cerca de 1h e o único veículo que foi abordado para inspeção
completa durante toda a madrugada tinha sido o do irmão de Flávio Dino.
O
inquérito instaurado a partir da delação de policiais militares que
participaram da abordagem e do próprio Saulo Dino apresenta representação por
crime de abuso de autoridade contra os oficiais que comandavam as instâncias
superiores no governo Roseana Sarney.
Os
depoimentos dos policiais confirmam que no dia 02 de setembro de 2014 o coronel
Francisco Wellington, comandante do Batalhão de Choque, recebeu um telefonema
do coronel Zanoni Porto – comandante-geral da PMMA na gestão da ex-governadora
Roseana Sarney – para repassar uma missão que tinha como objetivo abordar um
veículo tipo caminhonete de cor branca que possivelmente estaria com drogas e
armas, segundo a Diretoria de Inteligência e Assuntos Estratégicos (DIAE),
comandada pelo coronel José Carvalho.
A
ex-governadora Roseana Sarney , a comandante em chefe da Polícia Militar em
2014Em seu depoimento, o major Wellington detalhou que no final da tarde do dia
que antecedeu a abordagem chegou a comparecer na sala do comando geral da PMMA
e ouviu do próprio comandante-geral Zanoni que havia uma “operação policial” em
andamento. Segundo ele, os suspeitos estavam hospedados no Grand São Luís Hotel
e sendo monitoradas por policiais do chamado ‘serviço velado’ da PMMA.
Ainda de
acordo com o major Wellington, o coronel Carvalho disse que era para ele
aguardar os ‘suspeitos’ serem abordados, pois eles ainda estavam no hotel e o
serviço de inteligência estava monitorando. Segundo o inquérito, Wellington
afirmou que, ao tomar conhecimento do resultado da abordagem, se viu preocupado
e cogitou que a “PMMA estivesse sendo usada para fins particulares por conta
das disputas eleitorais que se aproximavam”.
A
abordagem
O
tenente Samarino Santana, que fora o oficial que comandou a abordagem no
veículo “alvo”, afirmou que recebeu ordens diretamente do coronel Zanoni e do
coronel Carvalho, que lhe fora repassado que a abordagem se daria em virtude de
suspeitas do veículo estar transportando drogas, armas e dinheiro. Ele estranhou
estar recebendo ordens daquela forma, diretamente do comandante da PMMA e do
chefe do Serviço de Inteligência, pois o usual seria que recebesse tais ordens
do comandante do batalhão a que está inserido.
Em seu
depoimento, o tenente Samarino assegurou que durante a abordagem aproximaram-se
dois policiais do serviço velado da PMMA. Ele conversou com um deles, o
sargento Issac, que afirmou que estavam seguindo a Hilux branca desde cedo, o
que também corrobora a afirmação de Saulo Dino de que ele estivesse sendo
perseguido por um gol prata.
O
policial militar Samarino afirmou perceber que, “ao identificar o condutor da
Hilux como sendo um irmão do então candidato ao Governo do Estado do Maranhão,
aquela abordagem possuísse fins políticos, pois estava em andamento uma
campanha para governador”.
Análise de imagens
Contam
ainda no inquérito imagens do CIOPS (Centro Integrado de Operações de
Segurança) em que é possível perceber que efetivamente a blitz realizada
naquele dia e horário não se tratava de uma barreira policial de rotina,
circunstância que foi corroborada pelos depoimentos dos policiais militares
envolvidos na ação.
Segundo
o inquérito, não houve abordagem sistêmica a outros veículos, e quando houve –
de apenas um – este resumiu-se a solicitar documentos, sem qualquer busca no
interior. Além disso, havia uma ordem articulada por oficiais superiores com
alvo específico, a caminhonete branca de Saulo Dino.
Ainda de
acordo com a investigação, com as imagens é claro o direcionamento na abordagem
do veículo conduzido por Saulo, vez que os próprios militares afirmam que a
barreira fora montada para abordar uma Hilux, o que contradiz os depoimentos
dos oficiais Zanoni e José Carvalho no sentido de que a referida blitz fazia
parte de uma gama de operações que eram realizadas à época.
Interesses privados
Conforme
o inquérito, ficou demonstrado que, na madrugada do dia 03 de setembro de 2014,
policiais militares deram cumprimento a ordem superior. “No caso em apreço, não
houve, sob o pálio do poder de polícia, simples abordagem para fins de
fiscalização, mas sim conduta arbitrária, ilegal e abusiva”.
Ainda
segundo a investigação, os policiais militares executores da ‘missão’ cumpriram
ordem do comando geral da PMMA, emanada pelos oficiais Zanoni e Carvalho. “Não há
nos autos qualquer indício que corrobore as declarações de ambos os
investigados no sentido de que a abordagem fora decorrente de operação policial
rotineira e no interesse do serviço público. Há sim, por outro lado, indícios
de que a abordagem, temerária e mal organizada, objetivava atender interesses
privados”, diz o inquérito.
Após a
investigação policial, os oficiais Zanoni Porto e José Carvalho foram
processados e julgados perante o Tribunal de Justiça do Estado do Maranhão
resultando na aceitação da transação penal proposta pelo Ministério Público e
homologada pelo juízo. Ambos os envolvidos cumpriram integralmente o teor do
acordo judicial e reconheceram a prática de conduta arbitrária, ilegal e
abusiva.
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