Tendo assumido o cargo com a pecha de estar
incumbido de blindar políticos e frear investigações, o novo diretorgeral da
Polícia Federal, Fernando Segovia, tem gastado parte dos seus primeiros dias
explicando as relações com os que o indicaram.
A escolha de Segovia foi vinculada a uma
articulação dos ministros Eliseu Padilha e Moreira Franco, do expresidente
José Sarney e do ministro do TCU Augusto Nardes, chancelada pelo presidente
Michel Temer.
Seu período como superintendente da PF no
Maranhão, entre 2008 e 2010, faz parte do rol de ligações perigosas que jogaram
suspeita na nomeação. Em São Luís, Segovia morou em uma casa alugada de uma
família de empresários da construção civil ligada aos maiores caciques do
Estado, Sarney e Edison Lobão.
Ficou amigo do dono do imóvel, Inácio
Regadas, e próximo do irmão, o patriarca da empresa, Marcos Regadas, dono da
Franere Construções, que doou dinheiro a campanhas do PMDB. Segovia diz que a
escolha da casa se deu sem saber quem era o dono.
Com a família Sarney, segundo relatos à
Folha, os encontros eram esporádicos e em eventos públicos, como festas de um
colunista social famoso na capital.
O chefe da PF ainda carrega uma infeliz
coincidência: tem como desafeto dos tempos de São Luís o delegado que hoje toca
justamente a única investigação em curso sobre Temer, Cleyber Malta.
O inquérito apura se houve irregularidade
em um decreto do setor portuário, historicamente de influência do presidente e
do PMDB.
Malta comandava inquéritos de desvios de
recursos na cidade de Imperatriz (MA) e foi convidado por Segovia a fazer o
mesmo no Estado. A oferta de trabalho, porém, não se concretizou da maneira que
esperava. Ele quis desistir da remoção, o que não foi aceito.
O caso provocou a abertura de um processo
administrativo por Segovia. Para amigos de Malta, tratouse de perseguição sem
motivo. Para o então superintendente, houve quebra de hierarquia.
O novo diretor foi ainda personagem de um
episódio envolvendo o ministro do STF Gilmar Mendes, de quem é amigo. Segovia
levou uma funcionária do IDP, faculdade de direito que tem o ministro como um
dos sócios, para registrar denúncia na PF, logo após o caso JBS se tornar
público, em maio.
Dalide Corrêa fez representação para que a
conduta de um delegado da Superintendência do DF fosse investigada. Para a
diretoria anterior da PF, a preocupação de Gilmar era de que estivessem
tentando o investigar sem autorização do STF, o que seria ilegal, por ter foro
privilegiado.
Segovia, que conhece Dalide há anos, diz
que acompanhou a funcionária do ministro por um pedido de Daiello, versão
negada pela antiga cúpula. Gilmar nega ter ajudado na indicação de Segovia.
FUTEBOL
Até no futebol, há relações estreitas com
pessoas ligadas ao partido do presidente e investigados.
Corintiano fanático, o novo chefe da PF
acompanhou a conquista do bi Mundial do clube no Japão, em 2012. Foi sozinho ver
a equipe comandada por Tite bater o Chelsea. Ele traz no braço direito tatuagem
do símbolo do time, feita na Itália em 2015, e diz não usar roupa verde, cor do
principal adversário, o Palmeiras.
Frequentador também de jogos da seleção
brasileira, o substituto de Daiello foi assistir a diversas partidas com
ingressos VIPs dados pela CBF por meio de um lobista famoso em Brasília e
diretor da confederação, Vanderbergue Machado, homem ligado ao Senador Renan
Calheiros (PMDB). Machado e Segovia viraram amigos.
Os ingressos eram uma doação da CBF em nome
da associação de delegados, a ADPF do Distrito Federal.
Há investigações no Brasil sobre a CBF. A
entidade não quis comentar.
POLÊMICA
A repercussão negativa das primeiras
declarações do novo chefe da PF, na semana passada, fez a cúpula da instituição
rever estratégias.
O próprio Segovia foi orientado a ser mais
discreto e a dar menos entrevistas.
Diante da primeira semana turbulenta do
novo diretor-geral, superintendentes e coordenadores que seriam trocados
acabaram ficando em seus cargos na tentativa de evitar polêmicas, segundo a
Folha apurou. Segovia nega que planos tenham sido refeitos.
Em seu discurso de posse, no último dia 20,
ele criticou as investigações que embasaram a acusação de corrupção passiva
contra Temer, em razão da delação da JBS.
A pessoas próximas, o diretor
responsabilizou a imprensa por ter sido mal interpretado e continuou defendendo
enfaticamente que houve pressa e um trabalho mal feito do ex-procurador-geral
da República Rodrigo Janot para concluir que o presidente cometeu crime.
A colegas, Segovia atribui as críticas que
vem recebendo e as suspeitas sobre suas ligações com políticos às "viúvas
de Leandro Daiello", em referência aos aliados do ex-diretor-geral, que
não conseguiu fazer seu sucessor no cargo.
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