Filiado ao PCdoB e reeleito com uma aliança
de 16 partidos, o governador do Maranhão, Flávio Dino, defende uma frente ampla
para superar a polarização nas eleições municipais deste ano — ele projeta que
a divisão entre o bolsarismo e o lulismo ficará “bastante viva” durante a
disputa pela preferência dos brasileiros.
Em entrevista ao GLOBO, Dino também afirmou
que ainda “há inúmeros caminhos a serem percorridos” até as próximas eleições
presidenciais, em 2022, e explicou seu encontro com o apresentador Luciano Huck
(a reunião gerou reação em setores da esquerda): “O fato de ele não integrar a
esquerda não significa que não devemos dialogar”. Leia a entrevista completa
abaixo:
Como será a atuação dos partidos de esquerda
e do PCdoB nas eleições municipais deste ano?
A eleição de 2020 será um teste para todos os
partidos porque será a primeira eleição na História sem coligações para vereadores.
Claro que para os partidos que têm desempenhos eleitorais menores, o desafio é
ainda maior. Nós estamos investindo em chapas próprias. De um modo geral,
especialmente no Maranhão, eu vou participar e vou apoiar os candidatos do
partido e das legendas aliadas, que no nosso estado são 16 (entre elas DEM, PT,
PP, PR, Solidariedade e PRB). Nacionalmente, de acordo com as alianças que o
PCdoB fizer, estou à disposição.
Como não repetir o fracasso de 2018 nas
urnas?
É fundamental que tenhamos espírito de
humildade e de diálogo. Muita abertura para promover uniões entre o campo da
esquerda, o campo progressista, e também alcançando forças políticas que estão
externas ao nosso campo, como os setores liberais, chamados de partidos de
centro. A meu ver, eles são essenciais para que a gente possa ter vitórias
eleitorais importantes em 2020.
O antipetismo pode atrapalhar uma frente
ampla?
As alianças partidárias e políticas são
fundamentais porque são expressões de segmentos da sociedade. Quando você rejeita
ou hostiliza partidos ou lideranças está, na verdade, hostilizando segmentos
sociais que são representados por esses partidos. É evidente que você não pode
perder identidade. Tem que ter identidade e lucidez programática. Com base numa
identidade definida, quem quiser apoiar esse programa, no nosso caso, voltado
ao combate de desigualdade, distribuição de renda e defesa dos direitos dos
mais pobres, pode somar. Não vamos inverter uma situação de perda de espaço e
transformar isso em um ciclo de novas vitórias se tivermos um sentimento
isolacionista.
Como superar esse sentimento?
O ano de 2018, de fato, foi um momento muito
difícil para o nosso campo político porque viemos de uma sequência de derrotas,
sobretudo após a votação do impeachment da presidente Dilma (Rousseff). Houve
uma sequência de dificuldades agudas, que já se manifestaram nas eleições de
2016, quando perdemos prefeituras importantes, a exemplo de São Paulo. O pior
momento foi 2018. Minha expectativa neste ano é de recuperação. Nossos resultados
eleitorais serão melhores do que o que tivemos na eleição municipal anterior. O
desgaste do próprio governo Bolsonaro contribui para isso. Estamos chegando ao
quinto ano que estamos fora do governo, desde o impeachment, e vemos que
persistem problemas gravíssimos econômicos e sociais, a exemplo do desemprego.
Bolsonaro e Lula serão os principais cabos
eleitorais desta eleição?
Sem dúvida, o bolsonarismo e o lulismo são
correntes políticas hegemônicas na vida brasileira atualmente. A polarização do
segundo turno das eleições de 2018 ficará bastante viva em 2020. É claro que
são 5.570 cidades no Brasil e há também fatores locais. É da natureza da
eleição municipal que esses fatores tenham predominância, mas, sobretudo nas
grandes cidades, essa clivagem nacional terá grande relevância eleitoral.
O senhor se reuniu com o apresentador Luciano
Huck. Há alguma perspectiva de aliança política?
Eu tive uma reunião com o Luciano Huck e
gostei muito. Achei positiva a preocupação que ele tem de estudar os problemas
do Brasil, refletir. Ele tem tratado muito sobre temas ligados ao combate à
desigualdade. É claro que ele se situa em outro campo político. Não é um
quadro, uma liderança, que busca se construir na esquerda. Mas o fato de ele
não integrar a esquerda não significa que não devemos dialogar. Mantive essa
reunião e vou continuar mantendo, como tenho quase semanalmente com o presidente
da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), para troca de ideias. Devemos conversar com
aqueles que neste momento nos ajudem na defesa do estado democrático de
direito. Não houve nenhum tipo de debate com o Huck, nem da minha parte, nem da
parte dele, sobre a eleição de 2022 por uma razão prática: estamos em 2020.
Seria um debate destituído de objetividade, uma vez que daqui até lá há
inúmeros caminhos a serem percorridos.
Setores da esquerda reagiram à sua reunião
com Huck. O deputado Paulo Teixeira (PT-SP) afirmou que o senhor estará com
Lula ou Haddad.
Eu prefiro o Luciano Huck conversando comigo
do que conversando com o Bolsonaro. Sobre a declaração do deputado Paulo
Teixeira, achei um gesto simpático, de respeito, amizade, até por causa da
história de aliança que temos com o PT desde 1989, desde a primeira candidatura
de Lula. É normal que o nosso candidato preferencial seja o PT, assim como
outros partidos de esquerda como o PSB, o PDT. Defendo uma frente orgânica, uma
reorganização da esquerda, e é claro que só é possível imaginar isso com o PT,
jamais contra o PT, mas sem que haja uma imposição de liderança A ou B ou de
partido A ou B.

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