Agência O Globo - Depois de o BNDES pedir a
convocação de uma assembleia de acionistas para discutir o impacto da delação
dos irmãos Joesley e Wesley Batista sobre a JBS, a Caixa Econômica Federal deve
se unir ao banco de fomento para atuar a favor da saída da família Batista da
gestão da companhia. O BNDES, por meio da BNDESPar, seu braço de participações
acionárias, detém 21,3% do capital votante da empresa. Já a Caixa tem fatia de
4,5%. Segundo uma fonte que acompanha as conversas, BNDESPar e Caixa devem
justificar o afastamento dos executivos sob o argumento de que é preciso
“preservar o valor do negócio”. A família Batista conta com 42,5% do capital da
empresa, e Wesley continua a ocupar o cargo de presidente da JBS.
Os bancos
públicos contam ainda com o apoio de acionistas minoritários.
— Um grupo
de minoritários com 26% das ações da JBS, como é o caso da Caixa e da BNDESPar,
tem peso para decidir pela mudança de comando na empresa — afirmou uma fonte.
Segundo
interlocutores do Palácio do Planalto, depois de atacar o Ministério Público
Federal, a estratégia do presidente Michel Temer é investir contra o empresário
Joesley Batista.
— Temer
vai atacar o Ministério Público e a credibilidade da JBS. Eles também vão
tentar tirar o controle do grupo por meio do BNDES. Agora vão atacar — frisou
uma fonte.
A ideia é
justamente unir sócios minoritários para que eles tentem tomar o controle em
assembleia. Segundo a fonte, o governo apega-se a uma cláusula que permite que
BNDES e minoritários possam destituir os controladores atuais para garantir a
saúde e a integridade das empresas e, principalmente, a garantia do valor
investido pelo banco público.
RECURSO
NA CVM
Na
segunda-feira, o presidente do BNDES, Paulo Rabello de Castro, já havia dado
pistas dessa estratégia. Rabello disse que ajustes são necessários na
administração da JBS e isso pode incluir o afastamento dos Batista.
— Mais do
que normal que esses dois grupos (de acionistas) se encontrem para avaliar
quais as consequências dos últimos eventos políticos sobre a companhia e tratar
de manter e até aumentar o valor dessa companhia através de providências de boa
governança — justificou Paulo Rabello na ocasião.
Procurada,
a Caixa não se manifestou.
Em outra
frente de ação, minoritários liderados pela Associação dos Investidores Minoritários
(Aidmin), entrou com recurso na Comissão de Valores Mobiliários (CVM), órgão
que fiscaliza o mercado de capitais, para obter os nomes de todos os acionistas
e o respectivo número de ações que cada um possui da empresa. O objetivo é
formar um novo bloco de oposição aos Batista e pedir uma indenização
financeira.
— Queremos
ressarcimento financeiro das perdas causadas pela corrupção. Os R$ 600 milhões
dados em propina a deputados foram roubados do caixa da empresa — diz Aurélio
Volpato, vice-presidente da Aidmin.
Segundo
Márcio Lobo, advogado da Aidmin, o pedido do nomes dos acionistas foi feito no
dia 26 de maio ao diretor de Relações com Investidores da JBS, Jeremiah
O’Callaghan. Em resposta, segundo o advogado, o gerente de Relações com
Investidores da empresa, André Gustavo Menezes, rejeitou a demanda alegando
“falta de motivação para evidenciar a necessidade de tal solicitação”. Mas,
ponderou que, se os minoritários tivessem interesse nas informações, deveriam
demonstrar “de forma expressa” que elas ajudariam na defesa de seus interesses.
A Aidmin reiterou o pedido, mas, passados 24, dias não foi atendida e recorreu
ao recurso na CVM.
Procurada,
a JBS informou, em nota, que encaminhou à associação pedido de esclarecimento
sobre a demanda.
“A JBS
informa que, ato contínuo ao recebimento formal da demanda, encaminhou à
Associação pedido de esclarecimentos que considera importantes e que até o
presente momento não foram respondidos. A companhia reforça o respeito aos
acionistas minoritários e registra que atenderá a referida solicitação assim
que receber as respostas da Associação”, diz.
Num
movimento interpretado pelos analistas como resposta às pressões do mercado, a
JBS está tomando medidas para reforçar seus padrões de governança. Na
quarta-feira à noite foi anunciada a criação de um Comitê de Governança para
auxiliar o Conselho de Administração. O assunto já vinha sendo tratado pela
companhia antes da delação de seus controladores, mas não havia saído do papel.
‘RESPOSTA
AO MERCADO’
Especialistas
ouvidos pelo GLOBO advertem que será preciso independência para que o comitê
funcione.
— É uma
resposta ao mercado de que a empresa está fazendo algo para implementar a
cultura de governança. Isso aconteceu com a Petrobras e com o Grupo X, do
empresário Eike Batista. Mas, em alguns casos, só existe a governança que o
dono da empresa quer. Por isso, é preciso ver se vai funcionar — diz Luiz
Marcatti, sócio da Mesa Corporate, especializada em governança corporativa.
Segundo
comunicado da JBS, fazem parte do Comitê Executivo Tarek Farahat e Gilberto
Xandó, ambos membros do Conselho de Administração da companhia, além do próprio
presidente da empresa, Wesley Batista.
Para
Renato Almeida dos Santos, sócio da S2 Consultoria, especializada em prevenir e
tratar atos de fraude, esses comitês só funcionam quando a empresa se
compromete com o mercado e os acionistas a implementar boas práticas de
governança.
— Mas,
para isso, é preciso que estes comitês sejam compostos por consultores
independentes. A base é a independência — explica o especialista.
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